quinta-feira, 25 de junho de 2015

JOY DIVISION


Quando falamos em música gótica, um nome que imediatamente vem à tona é o Joy Division. Formado em 1976, em Manchester, cidade da Inglaterra, o grupo durou poucos anos mas deixou profundas marcas na história do rock alternativo. Sua atmosfera nublada, carregada de drama e angustia, segue atual, traduzindo sentimentos que ultrapassam gerações.

Após assistirem uma explosiva apresentação do Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall, em Manchester, no dia 20/07/1976, os amigos Bernard Sumner (guitarra e teclado) e Peter Hook (baixo) decidiram montar a sua própria banda. Depois, juntaria-se ao grupo o vocalista Ian Curtis e, mais tarde, o baterista Stephen Morris completaria o time. 
A banda foi batizada de Warsaw (Varsóvia, em português), nome inspirado na música "Warszawa" do David Bowie. 

O Warsaw fez suas primeiras apresentações em 1977. Posteriormente, as músicas do grupo seriam lançadas extraoficialmente no registro conhecido como The Warsaw Demo. O Warsaw era uma típica banda de punk rock. Porém, como já existia outra banda punk londrina chamada Warsaw Paket, eles decidiram mudar o nome do grupo para Joy Division. O nome fazia referência a uma casa de prostituição existente no livro "The House of Dolls". A "casa das bonecas" designava a área reservada às prisioneiras judias que eram oferecidas sexualmente aos soldados nazistas.



O primeiro lançamento oficial do Joy Division foi o EP An Ideal for Living (1978). Suas quatro faixas tinham força, identidade e já indicavam o novo direcionamento artístico da banda. Tinham um pé no punk, mas continham significativos elementos do chamado pós punk (destaque para No Love LostLeaders of Men). Durante uma apresentação, o grupo chamou atenção do empresário Tony Wilson e eles foram contratados para a sua gravadora independente, a Factory Records.


 
A capa do EP trazia um membro da Juventude Hitlerista tocando um tambor. Essa capa e seu título ("um ideal para a vida"), assim como o nome da banda, geraram rumores sobre uma possível simpatia do grupo ao nazismo. Na época, inclusive, neonazistas chegaram a frequentar alguns shows - que, não raro, eram interrompidos por brigas com a própria banda. Posteriormente, os músicos negaram qualquer simpatia ao regime hitlerista. Alguns justificaram que era apenas uma admiração estética, um fascínio mórbido. O fato é que a estética punk buscava o choque, desconstruindo símbolos e imagens. O dadaísmo e o artista visual John Heartfield são algumas influências nesse processo de desconstrução estética.

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O primeiro álbum do grupo foi lançado em 1979. Apresentando um pós punk cinzento, urbano e urgente, Unknown Pleasures conquistou seu espaço, cativando a atenção de público e crítica. A voz soturna de Curtis complementava perfeitamente a atmosfera opressiva. Martin Hanett, empresário da banda, descreveria o trabalho do Joy Division como "música dançante, com tonalidades góticas" - sendo um dos primeiros a usar o termo "gótico" para definir um estilo musical. Não por acaso, eles seriam classificados - mesmo que retroativamente - como um dos "fundadores" do chamado rock gótico.
A emblemática arte da capa se tornou um ícone pop, até hoje estampando diversos produtos. Apesar de inúmeras teorias, a figura representa a leitura de ondas de rádio emitidas por um pulsar que captava a morte de uma estrela. Um clássico!

Ainda em 1979, eles lançaram seu primeiro single: Transmission - que se tornaria um dos maiores "hits" do Joy Division.
As apresentações do grupo eram intensas e a mística em torno do Joy Division era impulsionada pela performance de Ian Curtis. Além de seus gestos e danças peculiares, o cantor sofria de epilepsia e não raro tinha crises durante os shows.




A banda ganhava relevância e reconhecimento. Contudo, apesar do sucesso
, o quadro clínico de Ian seguia piorando. Sua depressão e epilepsia se agravaram, e seu casamento se deteriorava a cada dia. Não é exagero dizer que muitas letras pareciam ser um desabafo, um grito de desespero e angustia. O desfecho: Ian Curtis cometeu suicídio em 18/05/1980, aos 23 anos e um dia antes da viagem do grupo para os Estados Unidos, onde fariam sua primeira turnê intercontinental. 

Com várias faixas finalizadas, os lançamentos foram mantidos. Pouco após a morte de Ian, foi lançado o single Love Will Tear Us Apart - com a faixa homônima que se tornaria a mais popular da banda. O título dessa música também se encontra no epitáfio do túmulo de Curtis, no cemitério de Macclesfield, alvo de peregrinação de muitos fãs. Ainda em 1980, foi lançado o póstumo segundo álbum: Closer. Na capa, um jazigo do cemitério italiano de Staglieno anuncia o tom fúnebre e denso do disco. O enredo trágico acabaria consolidando o Joy Division como uma emblemática expressão do gótico na música.



Vídeo de Love Will Tear Us Apart, o unico feito pelo grupo:


Houve ainda outros lançamentos póstumos, como coletâneas, sobras de estúdio, registros de shows e regravações. Alguns meses depois do suicídio de Ian, os outros membros do grupo formaram o New Order, com um som gradativamente mais comercial e acessível. Bernard Summer assumiu os vocais (no início até mesmo tentando emular o vocal de Ian Curtis) e a tecladista Gillian Gilbert, namorada de Stephen Moris, foi incorporada ao grupo. Apesar de trilharem um caminho mais voltado ao synthpop / new wave, os primeiros trabalhos tentaram manter o espírito sombrio do Joy Division. O primeiro álbum - Movement - é carregado de referências a Ian Curtis (uma faixa, inclusive, leva o nome de ICB - Ian Curtis Buried).




Joy Division: Um conjunto que revolucionou o rock alternativo. Um grupo que ditou as bases do pós punk e que levou adiante a promessa de renovação estética e cultural do punk para direções artisticamente mais ambiciosas. Praticamente todas as canções possuem personalidade e maturidade, conseguindo ser perturbadoras e ao mesmo tempo belas e emocionantes.
A tragédia e os mistérios em torno do Joy Division e, sobretudo, da figura de Ian Curtis, se tornaram foco de filmes, documentários e livros. Até os dias de hoje o grupo segue sendo revisitado, com novos olhares artísticos sobre a sua obra.



Recomendações:

"Control" (2007), filme que traz um resumo fiel da trajetória do grupo, com foco na vida de Ian Curtis. Emocionante.

"Joy Division" (2007), documentário com depoimentos exclusivos e muitas curiosidades.

"Touching from a Distante" (1995), livro escrito pela viúva de Ian, Deborah Curtis.
Lembranças e confissões do ponto de vista de uma mulher que amou e sofreu calada, longe dos holofotes.


ÁLBUNS DISPONÍVEIS:


Um comentário:

  1. Definitivamente, Ian Curtis foi o melhor letrista do rock, junto com Bob Dylan, Lou Reed, Johnny Rotten, Joe Strummer, Jello Biafra e Marcelo Nova. O Joy Division fez a perfeita trilha sonora de Mancheester, em toda a sua atmosfera industrial: sufocante, depressiva, fascinante.

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